Simplicidade


O rei mais pequeno do mundo

Era um rei. O rei mais pequeno do mundo. Porém, tinha a mania das grandezas. Exigia que os seus súbditos, isto é, toda a gente do país, o tratasse sempre por Vossa Alteza; Vossa Enormidade; Vossa Imensidade; Vossa Grandeza. Os amigos podiam tratá-lo, nos dias em que estivesse bem disposto, por Vossa Proeminência.

Andava pelo palácio pendurado em enormes andas, pernas de pau, que o faziam mais alto do que qualquer pessoa. No palácio, de resto, isso não era difícil, pois segundo uma lei, inventada, é claro, pelo próprio monarca, não podia entrar ninguém com mais de cinquenta centímetros. Em consequência, toda a corte era composta por anões e por crianças, e estas, coitadas, perdiam o emprego assim que crescessem demais.

Para sair à rua, o rei montava uma das suas girafas. Tinha quinze. Todas altíssimas – eram girafas! – e muito bonitas e bem-educadas. Só ele podia montar nas girafas. Nos livros das escolas, as crianças aprendiam que aquele era o rei mais alto do mundo (o que levava as crianças a pensar que todos os reis eram muito pequenos).

O rei, com a sua mania das grandezas, queria que as casas do seu reino fossem as mais altas do mundo, e os cães, os mais altos do mundo, e os pés de milho, os mais altos do mundo. «Tudo neste país», dizia, «tem de estar à minha altura». Como ele era o rei, os ministros diziam: «Sim, Vossa Alteza». Os generais diziam: «Sim, sim, Vossa Enormidade». O povo dizia: «Sim, sim, sim, Vossa Desmesura».

E assim ia indo o reino. Até que um belo dia a rainha engravidou. O rei viu com preocupação crescer a barriga da mulher. Por um lado esperava que de lá de dentro saltasse o maior principezinho do mundo. Por outro, se o principezinho fosse de sua natureza muito grande, não poderia ficar no palácio (era a lei), e ele também não queria isso. A barriga da rainha cresceu muito. Cresceu tanto que ela já não cabia nas portas.

Porém, quando passado alguns dias deu à luz, as parteiras viram sair daquela enorme barriga, primeiro apenas vento, e depois um menino minúsculo.

O rei, que nunca dava o braço a torcer, mandou anunciar por todo o reino que nascera o maior príncipe do mundo. O menino, ao qual foi dado o nome de Máximo Magno, saiu ao pai. «Meu Deus!», sorria vendo-se ao espelho, «como sou enorme». O rei lembrou-se então de instalar no palácio espelhos de feira, desses que distorcem a imagem, e nos fazem parecer muito mais altos.

Máximo Magno ficou ainda mais feliz: «Sou um gigante», gritava, «nunca houve no mundo ninguém tão alto quanto eu.»

E assim ia indo o reino. O príncipe gostava de passear pelo reino mas, como era ainda mais convencido do que o pai, não usava nem andas nem girafas. Preferia seguir a pé, sozinho, para que todos admirassem a sua coragem e estatura. Ao vê-lo, as pessoas ajoelhavam-se e gritavam: «Longa vida a Vossa Eminência, o Príncipe». Uma tarde, distraído com a beleza da floresta, Máximo Magno afastou-se muito do palácio. Já ia longe, já tinha ultrapassado a linha do horizonte, quando encontrou um elefante.

— Sai da minha frente — disse-lhe com arrogância — senão piso-te. Sou o maior principezinho do mundo.

O elefante, que não era dali, viajava há muitos dias, e não conhecia a fama do rei, e nunca ouvira falar no príncipe, atira-se ao chão a rir às gargalhadas:

— Tu, pisas-me? Não conseguirias nem pisar na minha sombra.

O príncipe levantou o pé para esmagar o elefante. Não conseguiu, claro, só ele acreditava nisso, e o elefante continuou a rir. Quando conseguiu acalmar, disse ao príncipe:

— Uns nascem pequenos, outros nascem grandes. Mas ninguém nasce maior ou menor. Um dia dirão talvez que foste o maior rei do mundo, mas será por aquilo que fizeste, será porque foste um bom rei, e não por causa da tua altura.

O principezinho regressou ao palácio a pensar no que o elefante dissera. Quanto mais pensava, mais achava que o outro tinha razão. Mandou tirar os espelhos do palácio. Começou a falar com toda a gente, de igual para igual, e assim aprendeu muita coisa. Hoje, lá no reino, quando falam dele, as pessoas dizem: «É o maior Rei do mundo». E realmente acreditam nisso. Já ninguém se lembra do velho rei.

José Eduardo Agualusa
Era uma vez
Revista Pais e Filhos, s/d

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